quarta-feira, 3 de junho de 2015

Começou assim...




- Posso ajudar? - Depois de incontáveis minutos observando suas rugas no centro da testa, diante de prateleira cheia de CDs a sua frente, tomei coragem para ir até lá e prestar serviços (já que esse era o meu trabalho). Confesso que demorei um pouco, porque pensei que outra atendente fosse fazer isso.
Mas não foi o caso.

- Ah! Eu estou um pouco confuso...são tantas opções! - Levou as mãos a cabeça, fechando os olhos e dando um sorriso meio torto.
- É pra você? Ou é presente? - Que pergunta mais besta, era próximo o dia dos namorados.
- Não, é presente. Minha mãe faz aniversário essa semana. Ela faz coleção de CDs e DVD's. Seus preferidos são os Nacionais. Ah... Mas não  tenho  ideia de qual escolher! Me ajuda?
- Estou aqui para isso! Calma, vai dar tudo certo, entre esses que você separou, tem alguma noção de qual sua mãe mais gosta? -  Fiquei aliviada em  saber que era pra sua mãe! Embora, no fundo esse "alívio" não fazia sentido algum.
- Instrumentais! Dona Rebeca ama sons de dos instrumentos sozinhos. Chega até ficar mais tranquila. Quero dar a ela um CD que ela ouça no fim da tarde enquanto toma seu café. Sugere algum?

Com algum tipo de nervosismo ( do qual não sentia a muito tempo e não esperava senti-lo em meu ambiente de trabalho), procurei entre as opções a minha frente, algo que fosse parecido com oque me descreveu. Não foi uma missão fácil. Mas depois de alguns minutos, tirei do lugar uma capa vermelha e preta, com letras douradas. Antes que eu falasse algo,senti um tocar de dedos - Frios por sinal-  e quando te olhei, seus olhos brilharam na mesma sintonia que os meus.

- Esse esta perfeito - Tentei desviar o olhar, mas seus olhos eram tão vivos. Você foi mais sensato e baixou os olhos primeiro.
- Ah, tem certeza? Acha que ela vai gostar?
- Sim, com certeza. Você tem um ótimo olho pra vendas. - Quando ouvi isso, me senti meio enganada, porém aceitei com um sorriso.
- Obrigada! Vou pedir pra embrulhar, pode retirar no caixa. - Não resisti,tive que acrescentar- E caso ela não goste, você pode vir trocar. Diga meu nome e efetuo a troca.- Sorri não apenas como forma do procedimento de vendas, mas sim por satisfação. Falando em sorrisos, o seu é maravilhoso!
- Tudo bem, qual é o seu nome? - Voz rouca, com tom de alegria.
- Andressa, trabalho todos os dias da semana, menos as terças. Poder vir na parte da tarde.-Porque diabos estava falando essas coisas?
- Tem tanta certeza assim de que ela não vai gostar? Fica tranquila, você esta mais tensa do que eu!- e foi a primeira vez que ouvi sua risada ( estamos a meses juntos e ela não mudou nada).
- Fico preocupada com o bem estar dos clientes, por isso tomo todo cuidado e disponibilizo a troca de produtos. E sua mãe me parece ser alguém de bom gosto e quando se trata de presentes e bom gosto, temos que surpreender não acha? - Me senti um tanto quanto arrogante falando assim. Então acrescentei - Quer escolher a cor do embrulho? - Convide- o com uma piscadela.
- Realmente! Você é muito boa, tem um ótimo papo Andressa, deveria expandir isso viu - Pausa para pensar, sorrindo novamente prosseguiu- Deixo essa tarefa em suas mãos! Escolha a cor que achar melhor.

Te guiei até o caixa, agradeci e me despedi, indo em direção ao balcão. Minutos depois,observei você saindo, lembrando da nossa conversa de cinco minutos, estranho. Me sentia alegre demais para apenas um atendimento.

Três dias depois, próximo ao meu intervalo, enquanto terminava de atender um cliente,  te avistei entrando na loja. Sorri simpaticamente e você retribuiu enquanto olhava a pratilheira de lançamentos.

Minutos depois fui em sua direção.
- Boa tarde! Posso ajudar?
- Andressa! Tudo bem?
- Tudo ótimo, e você? Sua mãe gostou do presente?
- Vou bem obrigada. Vim aqui agradecer a atenção que teve comigo, minha mãe amou o CD novo, não para de ouvir! Ficou muito feliz. Ela disse que sempre passava na loja de CDs do Shopping e ficava namorando de longe ele na vitrine. - Bom, eu trabalhava nessa loja! - Quando abriu o embrulho dourado, que por sinal é a cor preferida dela, encheu os olhos de lágrimas. Foi um momento digamos que surpresa, para nós dois.- Não parava de prestar a atenção em suas mãos enquanto falava, você gesticula muito!
- Sério! Fico feliz que ela tenha gostado, traga ela aqui qualquer dia!- Da onde eu tirei tanta intimidade mesmo? - Bom, você veio comprar mais alguma coisa? Posso te atender rapidamente antes de almoçar.
- Ah não! Fique tranquila, só vim mesmo te agradecer. - Você baixo a cabeça por um segundo e colocou as mãos no bolso do moletom azul - Por coincidência também estou indo almoçar, posso te acompanhar? - Pode estar enganada, mas essa pergunta foi feita com uma pitada de timidez.
- Po-pode sim- Travei por três segundos "Pensa menina! fala alguma coisa!"-  Vou só pegar minha bolsa e meu casaco, rápido. Espera só um minuto.- Assentiu.

E foi assim que começamos a conversar.
Parece história de filme, mas é vida real.
Conheci sua mãe, que por sinal adorei conhece-la, e ela é uma mulher fantástica!Rimos e conversamos muito, enquanto você preparava o jantar.

Doze meses se passaram, e ainda ouço sua risada como na primeira vez.
Me arrepio quando toca na minha mão e sorrio com os olhos quando estamos  conversando.
Não trabalho mais naquela loja, mas sempre que passo em frente, sinto algo muito bom que se funde com as lembranças que esse lugar me trás.


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