sexta-feira, 24 de julho de 2015

Amores De Cafeterias

- Um café por favor?
- Pra tomar agora ou é pra viagem senhor?
- Pra agora por favor.

Eu estava na cadeira ao lado no mesmo balcão em que um rapaz que aparentava estar no auge de seus vinte anos se acomodava.
Assim que a atendente se virou e deu alguns passos, ouvi ele murmurar:
- Mas porque essa formalidade? Eu lá tenho cara de vovô?

Com meu livro na mão. Levantei na altura da boca na intenção de esconder minha risada. Porém fui traída pela mesma.
E assim aconteceu nosso primeiro olhar.
Seus olhos castanhos eram vivos, e ao perceber que achei graça de sua murmuração, sorriu de volta com uma piscadela.
Tímida, voltei meus olhos ao livro.
Foi quando a mesma atendente voltou, dessa vez em dirigiu a palavra a mim.
- Desculpa a demora, aqui está seu cappuccino. Algo mais?
- Magina, não estou com pressa. Não obrigada.
- Qualquer coisa, volte a me chamar. - com um sorriso no rosto, se virou para outro cliente.

Tenho a mania de mexer meu café antes de tomar. Mesmo sabendo que ele já está adoçado.
Enquanto fazia isso, percebi que alguém me observava.
- É bom?
- O cappuccino? É sim...uma delícia - tomei um gole, e o vi estreitar o olhos, como quem observa mais cautelosamente - experimente qualquer dia.
(Confesso que fiquei mais intimidada ainda.)
- É... Pelos seus olhos, ele parece delicioso.
Desculpa mas, você faz parte de algum órgão de proteção?
- Oi? - Perguntei depois do segundo gole - Não, por que?
- Você segura a xícara como quem protege alguém. Seus dedos chegam a se tocar.
- Aaaa... - eu ri - É mania. Sou desajeitada, então gosto de manter tudo firme perto de mim.
Tomei mais um gole. Na esperança que ele quebrasse o silêncio. Mas isso não aconteceu.
Como sempre, ficou me olhando.

Mais um gole, e junto subi a coragem que tinha em mim, e sustentei o seus olhos.
Segundos intermináveis... Até a atendente voltar.
- Aqui, senhor Rafael, seu café . Algo mais?

- Não obrigada... Aliás, tem sim, por favor não me chame de senhor. - Com aquela piscadela, sorriu para a moça, que ficou vermelha de vergonha e voltou ao outro cliente.
- Até que enfim... Estava com saudade desse cheiro desde as 7 da manhã! Já são quase 5 da tarde... Exame de sangue... Jejum... É tão ruim né? - ele falava enquanto mexia seu café.
- Adoro fazer exame de sangue, a melhor parte é a hora de ir embora! - em tom de irônia, respondi a pergunta, ao mesmo tempo, pensando no nome dele.
- Boa! - ele tomou um gole. - Sair do hospital  com certeza é a melhor parte!
- Aaa...sim! Libertador!
Desta vez, nós dois tomamos outro gole.
- Com certeza. Nos liberta direto pra cafeteria mais próxima! - Enquanto ele falava, reparei que ele era de uma beleza única e simples ao mesmo tempo.

Foi quando despretensiosamente, olhei para o relógio atrás dele: 17:15!
Já estava na minha hora.
Rapidamente. Engoli os resquícios de cappuccino da minha xícara, e comecei a juntar minhas coisas.
Quando me levantei, disse :
- Bom, tenho que ir agora. Bom café e um ótimo fim de tarde. Aliás, me chamo Carla.
- Já? Poxa, começamos a conversar agora. Foi um prazer viu Carla.
Me chamo Rafael. Obrigada pela companhia.
Boa tarde pra você também.

Assenti com a cabeça e sai em direção a rua. ( antes que pergunte. Meu café já estava pago).

Quando estava prestes a virar a esquina da cafeteria, senti uma mão em meu ombro. O vento estava gelado, mas os dedos de quem me tocou eram quentes.
- Carla  -  reconheci a voz - Queria muito que continuassemos nossa conversa, se importa? - Ele estendeu o celular na minha direção.
Ta OK, fiquei receosa. Mas algo me dizia que não teria mal algum nisso.
Disquei meu número e devolvi o celular.
- Me mande uma mensagem e se identifique, assim salvarei seu número.- Tentei - sem obter muito sucesso - dar uma piscadela.- Agora preciso ir. Fica com Deus.... Tchau.

Deixei para traz naquele dia, um rapaz com o rosto mais sereno que já conheci.
Com olhos castanhos que brilhavam.

Olhando para frente do balcão da minha cozinha, cinco anos depois, contemplo o mesmo rapaz, com o rosto sereno, porém agora com barba, óculos e um moletom velho.
Ele vem em minha direção com duas xícaras. Uma de café preto e na outra um cappuccino maravilhoso.

Quando segui meu caminho naquele dia, me perguntei que fim teria aquela conversa.
Analisando hoje, descobri que na verdade, foi apenas o começo de algo que duraria a vida toda!

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